Todos os dias ouvimos/assistimos/lemos, notícias sobre a crise hídrica e seus efeitos nos municípios. Nesta semana, mesmo, tomamos conhecimento de que já são 129 municípios no Estado de Minas Gerais, em estado de emergência, declarado. Segundo a grande imprensa e os responsáveis pelas administrações, o fato acontece “em função da falta de chuvas que Minas Gerais enfrenta”. Mas a verdade não é esta.
Em outras cidades do Estado – Itaúna dentre elas – também não está chovendo, mas não está faltando água. E o que é feito nestas cidades para que não falte água? No caso de Itaúna, acontece prevenção, preocupação da Administração em se preparar para enfrentar momentos de crise, como é este, em que as chuvas escasseiam.
Quando me mudei para Itaúna, meados da década de 80, era comum a falta de água, especialmente na região dos bairros Padre Eustáquio e Várzea da Olaria. Eram muitas as reclamações e os problemas. Nesta época o serviço de água do município era responsabilidade do Governo Federal, com a Fundação SESP (Fundação Serviços de Saúde Pública). Em 1990, durante o primeiro mandato do Prefeito Osmando, foi rompido o convênio com a SESP e o Município assumiu o serviço de água, que passou a ser administrado por uma autarquia municipal. O primeiro passo foi a construção de uma adutora de água bruta, para ampliar a captação. Em seguida, construídos vários novos reservatórios de água tratada e, também, ampliada a rede de distribuição que ultrapassa os 500 mil metros de extensão.
Constantemente são feitas obras de ampliação da capacidade de captação, tratamento, reservação e distribuição de água na cidade. O SAAE de Itaúna não espera que a estrutura seja estrangulada para fazer novas obras, antecipando-se em um trabalho de planejamento, de forma a dar solução a problemas que possam surgir, antes que estes surjam. Por isto, a capacidade de adução de água bruta é de até 400 litros por segundo, quando ainda estamos necessitando de apenas 320 litros. Assim, tem-se uma folga de 25% da capacidade instalada. Isto aponta para a possibilidade de atender a uma população de cerca de 120 mil habitantes (hoje temos 95 mil).
Na construção do Plano Municipal de Saneamento Básico, do qual tive o orgulho de participar diretamente, na elaboração da parte técnica, junto com os amigos Ailton Darlan, Jacer, Saionara, Antônio Lopes e Joaquim Gomes, já está prevista uma outra possibilidade de captação, para o caso de ser necessário o atendimento de uma população maior, com a vertente de crescimento apontando para os lados de Campos, Lopes e região.
É por isto que podemos afirmar que a crise de abastecimento de água não é devido à escassez de chuva, mas à falta de planejamento e visão administrativa. Em Itaúna pode faltar água, sim, mas será muito mais difícil que isto ocorra do que em outros municípios aonde não há planejamento e ações preventivas. E quando falamos que pode ocorrer falta de água em nossa cidade, apontamos para a necessidade de as pessoas se preocuparem e, antes de controlar as torneiras, diminuam as agressões ao ambiente. Não jogar lixo nas ruas e leitos de córregos, rios, riachos e onde ocorra um curso d´água. Não desmatar, não assorear, são ações simples e até mais fáceis do que a construção de obras de ampliação da estrutura. Assim, se nós fizermos a nossa parte, com certeza a Administração Municipal (e falo como membro participante dos quatro mandatos do Osmando) fará a sua, que é planejar o crescimento da demanda, antes que ele ocorra, para que não tenhamos que conviver com a crise pela qual estão passando tantos municípios.
* Sérgio Cunha é Jornalista Profissional, especialista em comunicação pública e mestrando em Gestão e Auditoria Ambiental.
Foto: Márcio Carvalho / SAAE Itaúna